POEMAS ESQUECIDOS À CHUVA
ATÉ EU
Acredito nas minhas dores
e alegrias
tento transformá-las
numa espiritualidade
que me dê força
para acreditar
que Deus não existe
EM BRANCO
Gosto da folha branca
em branco
ver-te em véu de noiva
a caminhar para mim
a escapar de mim
passo lento a repisar ideias
e flores de laranjeira
na sombra desse medo
repousa a corrente das palavras
no cinzento do dia risco a frase
que não combina com o azul dos teus olhos
UM SORRISO OU UMA MOEDA
A bola rebola no teu braço
no teu peito
e não despenha
e aquilo que desenha
não é vidro
nem vitrina
nem vitral
catedral em movimento
um sorriso ou uma moeda
falou o rastafari
eu, sem ter com que pagar
parti
FORA DE HORA
O meu caminho não se cruza no teu
fora de hora eu mudo de lugar
levo a noite para longe da mesa posta
e no breu
que me quer e de mim gosta
espero que a rua se esqueça do teu olhar
desde que eras menina
da vela ardida sem história para iluminar
clareia o dia vagabundo e sonolento
espreguiçando-se no firmamento
de pássaros fugitivos
a cantar
de madrugadas vazias se enchem livros
e leio as sombras que semeaste na esquina
se pensas que penso em ti
não há luz que revele esse segredo
cruzei o mar e não te vi
deusa, sereia, mulher
já houve um tempo de areia e medo
não é a ti que a saudade quer
e à porta do bar espera a chuva manhã cedo
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