POEMAS DE TERRA E MAR
CAIS DE OUTRORA
Âncora na mágoa
e a maré azulejo
que no Tejo abarco
tempo cinza, temporal
desespero onde te espero
desde esse desdém de vela
sem vento nem luz
que olha tão serena a vida
sem cais
de outrora sei
cresci na dor
fundador de alívios
em canções de amor
canções de areia e espuma
do mar recordo a lua triste
e as gaivotas
que bebiam minhas lágrimas.
O deserto não te corre nas veias
de arafat nem ouviste falar
no caminho lento das areias
o sol não te vai queimar
nas ruas poeirentas não te perdes
o Nilo, um risco torto no mapa
um novo canto que desconheces
e horizontes que o medo tapa
AS CASAS
Nesta aldeia
as casas estão tristes
e as pessoas inóspitas e vazias
ninguém sorri
nem se ouve o choro da lareira
as janelas espreitam o sol
sem nenhuma esperança
que abra horizontes
dos telhados escorrem ervas
teimosas, triunfantes
quando se abre uma porta
é para deixar sair o vento
a terra queima a pele
a casca oca do futuro
a boca fere a palavra
que morre na boca
das casas nem uma parede
respira
para quê erguer-te
se és monumento ao pó
és vislumbre do que foste
quando a estrada se afasta
meu lugar sem destino
e as casas morrem com uma árvore ao lado
O cheiro da terra molhada
viajará nas nuvens colossais
irei olhar o chão, o pensamento
tirará medidas ao nascente
para te dar espaço, sombra e luar
abrirei a terra fria
na fria manhã
será aqui neste lugar
que criarás raízes
que entrelaçarás nas minhas mãos
nos meus cabelos
e ficarás vizinha do céu multicor
amiga da noite de prata e sonho
do tempo sem destino
cúmplice do vento
das aves sem norte
plantarei uma árvore
para que lhe caiam as folhas
quando eu morrer.
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